O FOTÓGRAFO
Nas suas viagens pelo exterior, a maioria de estudo e pesquisa,
levava consigo uma comitiva de especialistas nos temas locais e também
um fotógrafo, responsável por registrar sua passagem pelos diversos
locais que visitava. Foi assim que o imperador começou a se interessar
pela fotografia. Adquiriu seu equipamento em março de 1840, alguns meses
antes que esses aparelhos fossem comercializados no Brasil.e deu início
à coleção, que ficou 110 anos guardada no arquivo da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.
O EGIPTÓLOGO
O estudo pelo antigo Egito foi objeto de fascínio dos dois
imperadores brasileiros. Motivado pelo interesse pessoal e pelos objetos
deixados pelo pai, que até adquiriu uma múmia rara da região de Tebas,
D.Pedro II, um poliglota e estudioso, foi o primeiro governante
brasileiro a viajar ao Egito na época de 1870.
Em seu acervo constavam três múmias femininas e uma delas, a
sacerdotisa Sha-Amon-em-su, ( a cantora sagrada de Amon) é uma das oito
do mundo que encontra-se com os braços enrolados separados do corpo e
seu sarcófago ainda está lacrado. Graças a um exame de tomografia foi
constatado que a múmia possui todos os amuletos de ouro, incluindo o
escaravelho azul.
A imperatriz Teresa Cristina trouxe como dote mais de 700 itens
distribuídos entre vasos de cerâmica, lamparinas e estatuetas de
terracota, objetos de bronze, esculturas em pedra, frascos de vidro e
outros, a coleção Grego-romana.
Outros elementos da coleção, como os vasos etruscos, foram
encontrados durante as escavações arqueológicas promovidas pela própria
Imperatriz em suas terras, integrando seu dote de casamento. As peças
datam de um período histórico que se estende do Séc. VII A.C ao Séc. III
D. C.
Foi por intermédio dela que, em 1853, seu irmão Fernando II, Rei das
Duas Sicílias, mandou para o Brasil peças de vários sítios
arqueológicos da Itália, a maioria de Herculano e Pompéia.
O Imperador contribuiu com diversas peças de arte egípcia, fósseis e
exemplares botânicos, entre outros ítens, obtidos por ele em suas
viagens. Desta forma o Museu Nacional se modernizou e tornou-se o centro
mais importante da América do Sul em História Natural e Ciências
Humanas.
PROTETOR DA CULTURA
A presença ativa do Imperador estava em todos os assuntos
relacionados com a ciência, a tecnologia e a educação. Fazendo o papel
de mecenas, o interesse de Dom Pedro II pelas ciências o levou a buscar a
companhia de cientistas, tanto no Brasil como no exterior, e a
participar de todos os acontecimentos culturais e científicos mais
importantes do país.
Para se ter uma idéia, o colégio D. Pedro II - a única Instituição a
realizar os exames que possibilitavam o ingresso nos cursos superiores -
era mantido pelo imperador e ele mesmo também escolhia os professores,
assistia às provas e conferia as médias.
Ajudou, de várias formas, o trabalho de vários cientistas como
Martius, Lund, Agassiz, Derby, Glaziou, Seybold.... Financiou ainda
vários profissionais como agrônomos, arquitetos, professores,
engenheiros, farmacêuticos, médicos, pintores etc. Um exemplo famoso é o
de Guilherme Schuch, futuro Barão de Capanema. D. Pedro II enviou-o em
1841 para a Áustria, a fim de estudar engenharia, pagando a viagem,
roupas, e destinando uma mesada regular até terminar seus estudos no
Instituto Politécnico.
Apreciador da literatura e das artes, incentivou a criação das
Escolas Normais, dos Liceus de Artes e Ofícios, dos Conservatórios
Dramático Brasileiro e Imperial de Música. Criou e coordenou o Instituto
Histórico Brasileiro e apoiou os estudos de Artes Plásticas com doações
de bolsas e prêmios, financiados pelo próprio soberano, de viagem à
Europa para os alunos da Academia Imperial de Belas Artes.
O DESBRAVADOR
Em 30 de abril de 1854, inaugurou a Estrada de Ferro Petrópolis,
fundada por Irineu Evangelista de Souza, Visconde e depois Barão de
Mauá, patrono do Ministério dos Transportes. A primeira locomotiva a
vapor do Brasil foi batizada de "Baronesa" , em homenagem à esposa do
Barão de Mauá, Dona Maria Joaquina.
D. Pedro decretou a construção das primeiras linhas telegráficas do
país e introduziu a produção cafeeira, o que promoveu o crescimento da
economia brasileira.
O imperador esteve na exposição de Filadélfia, Estados Unidos, em
1876, ocasião em que Alexander Graham Bell demonstrou a sua nova
invenção: o telefone. Na ocasião, ele exclamou: Esta coisa fala! O
Imperador fez uma encomenda de 100 aparelhos para o Brasil.
De espírito liberal, não só ajudou a cultura, criando e reformando
várias escolas e faculdades, mas incentivou a industrialização do país,
participando pessoalmente da seleção de pedidos de privilégio
industrial, e ainda aboliu a escravidão, através de sua filha a princesa
Isabel.
Encantado com a vista panorâmica do alto do morro, de onde se pode
avistar inclusive a belíssima Lagoa Rodrigo de Freitas, D. Pedro II
sugeriu um caminho para facilitar o acesso ao local. E, contrariando a
maior parte da população que achava mais confiável ir no lombo de um
cavalo, o imperador redigiu um decreto autorizando a construção da
ferrovia, em janeiro de 1882. Apesar do trecho curto, 3.829 metros (na
época era a menor via férrea da América Latina), o projeto demorou dois
anos para ficar pronto. A construção foi feita em duas etapas: primeiro
ficaram prontas as estações Cosme Velho e Silvestre, inauguradas em
1884; em seguida, Paineiras e Alto do Corcovado, entregues em 1885 e
inauguradas pelo próprio imperador que fez a primeira viagem acompanhado
pela princesa Isabel e sua comitiva.
O LIBERAL
Embora não seja reconhecido, dom Pedro II contribuiu bastante para a
liberdade de imprensa. No reinado de Dom Pedro II não havia presos
políticos, nem censura à imprensa.
A liberdade era tanto que circulava até um jornal pregando a derrubada da monarquia...
Mesmo assim, Pedro II fez questão de manter a liberdade de imprensa,
apesar de freqüentemente choverem caricaturas ridicularizando-o com um
certo "desinteresse" quanto a assuntos administrativos.
Em entrevista com o jornalista imigrante alemão Carl Von Koseritz (
Jornalista e político alemão, naturalizado brasileiro, lutou pela
abolição da escravidão e por uma política adequada de colonização.) o
Imperador fez a seguinte declaração: "Senhor Koseritz, aproveito a
ocasião para dizer-lhe que o estimo, pois sei que o senhor é um homem
esforçado que trabalha pelo bem desse país, mas gostaria que o senhor
não fosse mais injusto comigo. Não penso em levar a mal as críticas
sobre os meus atos. As censuras são úteis e necessárias, mas com
justiça, porque eu posso errar como qualquer homem. Somente as
injustiças pessoais devem ser evitadas"
A imprensa sofreu as conseqüências do chamado “Decreto Rolha”,
considerado por alguns historiadores como a primeira lei de segurança
nacional do país no início da República. O decreto 295 de 29 de março de
1890, decorrente do primeiro, aplicava-se a, “todos aqueles que derem
origem a falsas notícias e boatos dentro ou fora do país ou concorram
pela imprensa, por telegrama ou por qualquer modo, para pô-los em
circulação.”
O ECOLOGISTA
Em 1862, ordenou o replantio de toda a vegetação nativa onde hoje é a
Floresta da Tijuca no Rio de Janeiro a maior floresta urbana do mundo.
Totalmente devastada em função do plantio de café, comprometeu as
nascentes dos rios e alterou o equilíbrio climático da época.
O ASTRÔNOMO
Em seu diário escreveria D. Pedro II: “Se não fosse imperador do
Brasil quisera ser professor". O imperador mantinha contato estreito
com muitos nomes ilustres da época, como Camille Flamarion e Victor
Hugo, com os quais dividia a paixão pela Astronomia. Fundou bibliotecas,
museus, observatórios astronômicos e meteorológicos em várias partes do
país, algumas vezes mantendo-os com recursos pessoais.
O Imperial Observatório do Brasil havia sido criado por decreto de D
Pedro I em 1827, no Rio de Janeiro, mas só começara a funcionar quase
vinte anos depois. D. Pedro II deu forma e alma a instituição, cedendo
os próprios instrumentos que utilizava em seu observatório particular na
Quinta da Boa Vista, para que o Imperial Observatório pudesse iniciar
suas atividades.
Sua Majestade ansiava por desenvolver um observatório astronômico
moldado nos mais modernos, como o famoso observatório de Nice, onde foi
descoberto o asteróide 293, chamado Brasília, em homenagem ao Imperador,
quando do seu exílio, em Paris.
O Imperial Observatório trouxe-lhe muitas realizações. Em Janeiro
de 1887 o próprio Imperador, bom em matemática, fez estimativas do
comprimento da cauda de um cometa, como ficou registrado na revista
francesa "L'Astronomie", publicada até hoje.
D Pedro II estava sempre em contato com os astrônomos do Imperial
Observatório e discorria com rara competência sobre diversas questões
científicas. Ele tinha um apartamento privativo neste observatório, onde
passava varias noites fazendo observações junto com esses astrônomos.
Em fins de 1889 um grande telescópio por ele encomendado e pago, como
sempre do seu próprio bolso, sequer chegou a ser desembarcado no porto
do Rio de Janeiro, por ordem dos republicanos, após o grande golpe de 15
de novembro de 1889. Foi um mergulho ao mundo das trevas. O que seria o
maior telescópio da America do Sul e mapearia os céus do Hemisfério
foi enviado de volta para a Europa.
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